domingo, 17 de novembro de 2013

quem lhe abriria a porta quando eu morresse?






Sempre que pode foge prá rua, 
cheira o passeio 
e volta pra trás, 
mas ao defrontar-se com a porta fechada
(pobre do gato!)
mia com raiva 
desesperada. 
Deixo-o sofrer 
que o sofrimento tem sua paga, 
e ele bem sabe. 

Quando abro a porta corre pra mim 
como acorre a mulher aos braços do amante. 
Pego-lhe ao colo e acaricio-o
num gesto lento, 
vagarosamente, 
 do alto da cabeça até ao fim da cauda. 
Ele olha-me e sorri, com os bigodes eróticos, 
olhos semi-cerrados, em êxtase, 
ronronando. 

Repito a festa, 
vagarosamente. 
do alto da cabeça até ao fim da cauda. 
Ele aperta as maxilas, 
cerra os olhos, 
abre as narinas. 
e rosna. 
Rosna, deliquescente, 
abraça-me 
 e adormece. 

Eu não tenho gato, mas se o tivesse 
quem lhe abriria a porta quando eu morresse? 





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