no cimo das árvores, nas gotas da chuva
Queixo-me ao vento, a nossa vida não é senão um minuto,
cavalos, regressem,
se pelo menos os cavalos pudessem regressar:
regressem ao nosso tempo, uma vez mais para recomeçar!
Se pelo menos os ponteiros invertidos do relógio nos pudessem trazer
de volta os momentos que desperdiçámos, aos bocadinhos,
se pelo menos a engrenagem, operando em sentido contrário,
pudesse deslindar o nó do suicídio,
se pelo menos a lua que ainda ontem se deitou
regressasse uma vez mais ao céu de hoje,
se pelo menos conseguíssemos chorar de novo
as nossas mágoas triviais!
Queixo-me ao vento ─ ouçam o seu lamento agoniado ─
se pelo menos o vento pudesse trazer de novo,
trazer de novo a máscara da pele morta ─
a máscara que no sopro da morte
deslocou da face um último fôlego
e que o vento agora varre e desgasta ─
para que nos beijemos uma vez mais
antes que esvaneça e se despedace
no cimo das árvores, nas gotas da chuva.
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